esquina do tempo
local no qual acontecimentos casuais se encontram em diferentes sentidos. a coincidência é irmã mais velha por parte de mãe do deja vu.
o título do livro cantos tortos de meu amigo lucas bronzatto me lembrou uma obra de cildo meireles chamada cantos, na qual o artista cria um "vão", um espaço, no encontro (canto) de duas paredes de uma sala. ao pensar sobre essas duas obras me lembrei de outra expressão: horizonte vertical, acho que é o título de um livro, não lembro, mas ela caberia bem nesses cantos.
isso por sua vez me lembrou um trecho de marçal aquino, acho que do livro eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, em que ele escreve algo mais ou menos assim de tentar extrair sonhos das frestas da realidade. acho que é por aí.
a origem da obra de cildo é a história de um sonho que ele teve uma vez quando criança. o artista estava na casa da avó e depois do almoço resolvera tirar um cochilo. ele conta que se deitou, mas depois quando tentou se levantar não conseguia se mexer. estava paralisado e não conseguia emitir nenhum som. mas conseguia enxergar e ouvir tudo. de repente ele percebeu num canto do quarto, na diagonal da cama, que começou a sair mãos com unhas ultra pintadas, depois o rosto de uma mulher e depois ela por inteira. veio sorrindo na direção dele. parecia velha e estava muito maquiada. ela andou na direção dele e parou nos pés da cama. começou a levitar e pareceu encostar os dedos dos pés nos do artista. ele conta que rezou todas as orações que conhecia, e quando rezava salve rainha a mulher lentamente se afastou, mas sempre sorrindo, e voltou para o canto. aí ele recuperou o controle do corpo.
acho legal dessa obra cantos que ela cria um espaço num ambiente doméstico, como se fosse uma metáfora de quebrar a rotina. e voltando ao horizonte vertical, ao criar esse espaço é como se criasse uma possibilidade - inesperada, porque foge da norma, não se vê muitas paredes assim - e o horizonte como símbolo da utopia, aquilo a ser alcançado. como diz eduardo galeano o horizonte como a utopia é inalcançável mas sempre podemos buscá-los, aquilo da importância estar na caminhada, no caminho, no meio (de duas paredes no caso rs mas não só, no meio dessas coincidências que foi o lançamento do livro do meu amigo, chamado cantos tortos que por sua vez é inspirado numa canção do belchior "eu quero é que esse canto torto feito faca corte a carne de vocês", eu ter estudado o cildo e me lembrar dessa obra, a gente ter escrito com mais dois amigos um poema chamado esquina do tempo...)
e a poesia entre muitas outras coisas é também isso de criar novas possibilidades para o uso doméstico das palavras. criar umas fendas na realidade pra gente extrair uns sonhos. criar uma brecha no discurso conservador, criar um buraco pra flor nascer do asfalto, facilitar um pouco né... criar um suspiro na respiração da mocinha, ou do mocinho, ou do homem ou da mulher que sofre... criar para conquistar, não no sentido imperialista... entende, amigo? por que se você me perguntar por onde andei no tempo em que você sonhava, de olhos abertos lhe direi: amigo, eu me desesperava. e temos que gritar desesperadamente, antes que roubem nossa voz.
isso por sua vez me lembrou um trecho de marçal aquino, acho que do livro eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, em que ele escreve algo mais ou menos assim de tentar extrair sonhos das frestas da realidade. acho que é por aí.
a origem da obra de cildo é a história de um sonho que ele teve uma vez quando criança. o artista estava na casa da avó e depois do almoço resolvera tirar um cochilo. ele conta que se deitou, mas depois quando tentou se levantar não conseguia se mexer. estava paralisado e não conseguia emitir nenhum som. mas conseguia enxergar e ouvir tudo. de repente ele percebeu num canto do quarto, na diagonal da cama, que começou a sair mãos com unhas ultra pintadas, depois o rosto de uma mulher e depois ela por inteira. veio sorrindo na direção dele. parecia velha e estava muito maquiada. ela andou na direção dele e parou nos pés da cama. começou a levitar e pareceu encostar os dedos dos pés nos do artista. ele conta que rezou todas as orações que conhecia, e quando rezava salve rainha a mulher lentamente se afastou, mas sempre sorrindo, e voltou para o canto. aí ele recuperou o controle do corpo.
acho legal dessa obra cantos que ela cria um espaço num ambiente doméstico, como se fosse uma metáfora de quebrar a rotina. e voltando ao horizonte vertical, ao criar esse espaço é como se criasse uma possibilidade - inesperada, porque foge da norma, não se vê muitas paredes assim - e o horizonte como símbolo da utopia, aquilo a ser alcançado. como diz eduardo galeano o horizonte como a utopia é inalcançável mas sempre podemos buscá-los, aquilo da importância estar na caminhada, no caminho, no meio (de duas paredes no caso rs mas não só, no meio dessas coincidências que foi o lançamento do livro do meu amigo, chamado cantos tortos que por sua vez é inspirado numa canção do belchior "eu quero é que esse canto torto feito faca corte a carne de vocês", eu ter estudado o cildo e me lembrar dessa obra, a gente ter escrito com mais dois amigos um poema chamado esquina do tempo...)
e a poesia entre muitas outras coisas é também isso de criar novas possibilidades para o uso doméstico das palavras. criar umas fendas na realidade pra gente extrair uns sonhos. criar uma brecha no discurso conservador, criar um buraco pra flor nascer do asfalto, facilitar um pouco né... criar um suspiro na respiração da mocinha, ou do mocinho, ou do homem ou da mulher que sofre... criar para conquistar, não no sentido imperialista... entende, amigo? por que se você me perguntar por onde andei no tempo em que você sonhava, de olhos abertos lhe direi: amigo, eu me desesperava. e temos que gritar desesperadamente, antes que roubem nossa voz.
Comentários
Postar um comentário